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Africa do Sul, terra das longas direitas!

Aos poucos meus melhores amigos que se tornaram campeões de surfe foram se afastando, não era cool ser amigo de um gringo? Eu não era da mesma classe social? Sei lá, foda-se, fiz amizade com outras pessoas entre elas Eurico Morais, um português que vivia no Brasil mas havia morado e estudado na África do Sul. No final de 1984 nós havíamos servido o exército brasileiro e no final do ano Eurico voltou para Johanesburg onde foi para trabalhar em agências de publicidade e treinar para se tornar salva vidas, uma instituição de respeito no país e que vencia competições internacionais regularmente. Após receber um convite de meu chefe, o subtenente Quintino para me tornar um motorista no IPD, Instituto Brasileiro de Pesquisas, recusei a proposta e tracei meus planos, estudar e morar na África do Sul, mais especificamente em Durban, a cidade de Martin Potter e Shaun Tomson, entre muitos outros excelentes surfistas.


Com uma Peter Daniels 6,3 Cape Saint Francis 1985



Por esta época eu surfava regularmente na Prainha, viajava constantemente pelo Brasil e participava de competições, além de já surfar mares de ressaca no Pontão do Leblon com tranquilidade e sempre pegando as maiores da série. Falei com minhas patrocinadoras, minha avó, que também residia no Leblon e uma tia que vivia no Vaticano em Roma, que prontamente organizaram as finanças pois eu iria estudar em uma instituição séria e me formar.

Aos 20 anos minha família me levou ao Galeão, é difícil conter as lágrimas quando se está deixando tudo para trás e indo sem data de volta para outro continente.


Com Marcelo Boscoli em Cape Saint Francis

Cheguei com duas pranchas em um país que estava em estado de emergência e onde tive que me adaptar (mais ou menos) a política, sua cultura e diversidade. Isolado em um quarto no YMCA eu saia de manhã já com um neoprene e uma 6,1 pelas escadas do instituto, para o espanto dos hóspedes, recepcionistas e demais presentes, e correndo em meio ao movimento de rush de pessoas indo para o centro da cidade, seguia uns 6km até as famosas direitas de Bay of Plenty.

Com uma Kronig 6,1 em Bay of Plenty, Durban, 1985;


Foram seis meses de surfe diário, chegando a pegar ondas bem grandes. Neste ínterim arrumei trabalho em um restaurante com música ao vivo e uma galera muito bacana com quem fiz amizade. Na cozinha baseados gigantes eram acesos com naturalidade enquanto eu dava o melhor para atender pessoas e limpar as mesas ao som de rock e vídeos de surf na tela. Consegui entrar para a faculdade que queria, uma empresa iria me patrocinar para estudar já com um contrato de trabalho, mas o destino não quis assim e como o Brasil havia recentemente cortado relações diplomáticas com o país devido ao Apartheid, meu visto de estudante foi negado.


Em Oyster Bay com a galera de Pernambuco, pico infestado de turbarões, como viemos a saber depois do surf.



Nesta altura eu estava treinando com os salva vidas, indo em clubes de surfe e surfando incessantemente. Foi aí que chegaram os brasileiros para competirem nas nos eventos profissionais em Durban, entre eles Roberto Valério, Picuruta Salazar, Fred Dorey, Dada Figueiredo, Gustavo Kronig, e vários outros. Armado com duas Burn, shapeadas por Peter Daniels por encomenda, me juntei a esta turma e partimos para J Bay.

As ondas de J Bay!




Na despedida o Eurico me disse uma coisa que jamais esqueci, após uma sessão de surfe em Bay of Plenty, junto com os competidores dos campeonatos ele me disse, “Edu, você está no mesmo nível desses caras!”, e acho que tem muito de verdade nisso!


Visual do terraço do restaurante onde trabalhei, North Pier, Durban.



Aprendi muito, surfei muito e voltei para o Brasil com uma plaina de shape na mão e vários instrumentos pois em breve iria fazer pranchas com o nome de African Lines, junto com Eurico que em 88 retornou ao Rio.


O famoso Guston 500, neste ano vencido por Shaun Tomson.

Surfando em Cape Saint Francis.

Com esta 6,10 shapeada pelo Eurico a partir de um outline havaino que pegamos com o Eraldo Gueiros, surfei ondas perfeitas de terral no Canto do Recreio com mais de 3 metros e sozinho em um dos melhores mares de minha vida!


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