Leblon, onde tudo começou!
- Eduardo Lichnowsky
- 23 de nov. de 2018
- 2 min de leitura

Minha família chegou ao bairro ainda nos anos 60. Primeiro foram as ruas, as
praças, os prédios em demolição e as brincadeiras de costume, mas aos poucos o mar foi chamando nossa atenção. Entre 1974 e 1978 aprendemos aquilo que é considerado surfe em diversos locais da Polinésia, onde a atividade foi inventada, o surfe deitado. (em uma prancha de isopor). Em 1977 a primeira prancha de fibra de vidro, uma mono-quilha Miçairi 6,10'. A prancha ficou escondida de meu pai durante um ano inteiro e foi usada poucas vezes neste período devido ao grau de dificuldade das ondas. Surfar com uma prancha de uma quilha, enorme para minha estatura aos 12 anos e nas ondas buraco e fechadas do Leblon me levou a ter varias cicatrizes e passagens pelo Hospital Miguel Couto.
A Zona Sul do Rio de Janeiro foi durante muito tempo o centro do universo do surfe brasileiro com importantes competições no Arpoador e o Leblon sempre produziu surfistas de alto nível. Foi um aprendizado em tanto conviver com diversas pessoas que se tornaram profissionais de sucesso e

passar anos surfando e competindo junto com eles. Alem das diversas valas que se formam na praia inteira o local se destaca por ter uma das ondas mais pesadas do Rio, e uma galera eclética que vai desde filhos de embaixadores á moradores das comunidades vizinhas. O Pontão do Leblon é uma onda que prepara o surfista para os encontros que vai fazer em sua carreira, no meu caso, após apanhar muito para conseguir dominar esta difícil onda cheguei sempre muito bem preparado em qualquer onda que encontrei pela frente, seja no Brasil ou no exterior. Entre os shapers locais com quem fiz minhas pranchas estão nomes como Marcelo Peninha, Gustavo Kronig e Italo Marcelo.

Considerado um bairro de elite com alguns dos imóveis mais caros do país o Leblon tem um outro lado que começa em suas areias onde pessoas de todas as classes sociais e raças se misturam e termina dentro da água no Pontão, sendo que em muitos dias me encontrei praticamente sozinho la fora, uma sensação de grande potência e liberdade, deixando os que estavam em terra firme apenas admirando as enormes ondas que a praia oferece em dias de ressaca.
As lembranças do bairro e seu espirito de surf city ainda nos anos 70 são temas que pretendo desenvolver em outros textos, por enquanto basta dizer que após as 14 horas, quando o surfe era liberado pelo Salvamar, a imagem de pessoas saindo de seus prédios com pranchas psicodélicas, cabelos compridos, o cheiro de parafina no ar e a corrida para o mar, são imagens que se recusam a abandonar meu imaginário.

Após nossa mudança para o Recreio dos Bandeirantes em 1987 ainda retornei muitas vezes ao Pontão e foi em nosso apartamento na Venâncio Flores que shapeamos e laminamos nossas primeiras pranchas. A última vez que surfei por la foi em 1998 em um Pontão bem servido com uns dois metros. Ainda penso em surfar la algum dia, sei que algumas pessoas daquela época estão ainda hoje em dia surfando no local.
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